Textos

Construir o visível, ato nem sempre gratificante, exige um jogo de encobrimento e aparência, elaborado em instâncias quase sempre inacessíveis. O corpo da obra em si não contém arte, mas uma gestualidade que muitas vezes a afasta. Há um referencial imprescindível no gesto e no material manipulado pelo artista, mas a arte vista como essência da obra está além desta conotação. Certamente está numa imagem que extrapola aquela que se apresenta, como numa sensação alheia ao corpo que a motivou.

São vários os níveis de procedência destas imagens e diversas as maneiras de projetá-las. Na sua variedade, elas são captadas no mesmo nível em que foram concebidas, mais ou menos profundamente acreditemos ou não no inconsciente. O estranhamento que causam deve ser relativo à nossa própria estranheza, ao conteúdo dos sonhos.

A imagem de si mesmo é irrealizável, exige uma observação distanciada do outro em paralelo, uma frustração anunciada que nos forma e excita, vestindo fantasias que parecem identidades. São contrariedades. Abordagens técnicas ou científicas deixam a nu um corpo misterioso, implausível; a indumentária tem significações irreconhecíveis. Um cheiro. A biologia como a geometria vestem fantasias, transfigurando o desejo, tentam suplantar incompletudes sempre deixando de fora uma ponta do cabide. O corpo sem dono está solto. Disfunções.

A sexualidade é da ordem do mental e pouquíssimo sensual, a pulsão que subjaz aos comportamentos e formalismos desta reafirma uma verdade arcaica. Está radicalmente infiltrada aonde não é manifesta e independe de representação. É.